Monthly Archives: September 2011

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Futuro do pretérito

Os brasileiros, enfim, podem morar num cenário da Globo
por Bruno Moreschi (publicado na revista piauí de 07/11)

Nas palestras que faz pelo Brasil afora, Hans Donner nunca se importou com os bilhetinhos que costuma receber da plateia. Ele aprendeu que as mensagens, além de confirmarem o sucesso de seu trabalho, invariavelmente terminam com um pedido. Recentemente, por exemplo, a mensagem de uma mãe afoita chegou a suas mãos quando explicava ao público como concebeu a abertura do Fantástico. A senhora suplicava para que o desenhista conhecesse sua filha. O bilhete garantia que a jovem era perfeita para ser a próxima mulata do Carnaval da Globo. Talvez pelo fato de ser casado com uma das mulheres que protagonizou as vinhetas, Donner ignorou a sugestão.

Um bilhete que lhe foi entregue em maio, no entanto, tocou uma corda sensível em sua alma austríaca. O cenário era o SPA do Vinho Caudalie, um hotel luxuoso da cidade gaúcha de Bento Gonçalves, onde Donner apresentava uma de suas mais ousadas empreitadas artístico-decorativas: a coleção Móveis by Hans Donner.

Talvez devido a tentativas frustradas anteriores, Donner estava nervoso. Temia que, mais uma vez, suas cadeiras, poltronas e mesas de visual retrô-futurístico não agradassem o mesmo público acostumado com suas criações televisivas. Bobagem. Um bilhete da plateia chegou a ele para provar que o Brasil está preparado para o estilo über Jetsons. Escrito pelo dono do hotel, a missiva rezava: “Seus móveis são maravilhosos. E irão decorar o saguão deste hotel. Quero avisar que quinze peças já são minhas.”

Atônito, Donner parou a peroração. Sua mente voltou duas décadas, quando experimentou não o triunfo, mas o fracasso de vendas. No final da década de 80, o designer fez a primeira incursão no mundo da mobília. Durante meses, suas peças ficaram expostas nas vitrines de uma loja de decoração nos Jardins, em São Paulo. Assim como hoje, os móveis eram inspirados na vinheta do falecido Xou da Xuxa, ecoavam dezenas de novelas de há muito fora do ar e tinham toques do cenário do Jornal Nacional.

Mas os brasileiros de então, assim como não estavam preparados para uma aliança do ptcom Sarney e Collor, também não se mostraram prontos para conviver, diariamente, ao vivo e em cores, dentro de casa, com as formas cônicas e cilíndricas, de cores gritantemente metálicas, de Hans Donner. Ninguém se interessou pelos móveis. Vexado, o designer comprou suas próprias peças e estocou-as em casa.

Hoje, é um Donner vitorioso e exultante que analisa: “Era tudo muito futurístico para a época. Quando viam fora da televisão, as pessoas não conseguiam assimilar as esferas, os cones e as pirâmides de fibra de vidro. Mas a aceitação de agora mostra como o Brasil mudou. Obama estava realmente certo quando veio aqui e disse que o futuro chegou ao nosso país.”

Os móveis de Donner seguem seu estilo inequívoco: o do futuro do pretérito. Eles concretizam aspirações defuntas, ruínas de um futuro que não existirá nunca. Não obstante, seus objetos são reais, existem no presente. “Meu maior interesse foi entrar pela segunda vez na casa das pessoas”, explicou. “A primeira foi pela televisão. Agora, a experiência é muito mais real.” Tão real que é possível sentar ou comer uma feijoada sobre ela.

Nascido na Alemanha, mas formado na Höhere Graphische Bundes-Lehr- und Versuchsanstalt, em Viena, Donner acredita que seu mobiliário é crítico, e desmistifica a televisão. “Durante anos, cadeiras como as do Jornal Nacional foram vistas como algo utópico, ou de outro mundo, mas hoje é diferente”, diz. “O brasileiro comum pode sentir a mesma sensação experimentada por nomes importantes como Cid Moreira e Sérgio Chapelin.” Vale o registro: William Bonner e Fátima Bernardes tiveram o azar de ter um cenário criado por mentes menos ousadas do que a de Donner, que apenas supervisionou a atual bancada do Jornal Nacional.

Como a intenção foi dar às peças o estatuto de obra de arte, os móveis têm nomes específicos e levam uma assinatura do criador. Os preços variam de 800 a 3 mil reais. A Mesa Esférica é formada por um tampão de vidro circular, um único pé prateado e detalhes feitos com fibra de carbono. Para Donner, a peça “materializa o lúdico na sua mais completa ebulição” – o que dá para perceber com facilidade. Uma das cadeiras tem o encosto em formato de “v”. Com o nome de Cadeira Valéria Brasil, a peça é uma homenagem a Valéria Valenssa, ex-mulata Globeleza, esposa de Donner e mãe de dois dos seus filhos.

Donner não hesita em revelar sua preferida. Ela se chama Poltrona Brasil porque resume bem o nacionalismo efusivo que marca a coleção. Seu assento é azul e amarelo, além de ter o formato de um cone em que a extremidade mais pontiaguda toca suavemente o solo. “A intenção é causar a sensação de que ela flutua”, explicou o criador. Já o encosto arredondado, verde, completa a referência à bandeira do Brasil. Há também uma opção internacional da poltrona. Toda prateada, ela ressalta o ar futurístico da peça.

A Poltrona Brasil tem história. Ela esteve na primeira tentativa frustrada de lançar os móveis. E se mostrou ainda merecedora de estar nesse segundo momento por causa de sua incrível capacidade de proporcionar conforto a quem senta em seu… cone. “Lembro-me exatamente da primeira vez que experimentei a poltrona, em plena década de 80”, contou Donner. “Senti-me um verdadeiro rei. Mas logo vi que se tratava apenas de uma sensação ilusória. Tenho plena consciência de que os únicos reis brasileiros são Pelé e Roberto Carlos.”

Em 2000, na infatigável batalha para divulgar os móveis, Donner levou protótipos a uma exposição internacional na cidade alemã de Hanôver. Quem estava também na feira era o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Donner foi rápido: se a maior autoridade brasileira sentasse na Poltrona Brasil, certamente outros nacionais reconsiderariam a (injusta) aversão inicial causada pela peça.

Fernando Henrique aceitou o convite. E o momento foi registrado numa fotografia guardada com desvelo pelo designer. Nela estão o ex-presidente no centro da imagem, Donner cochichando algo em seu ouvido e uma multidão anônima, não fosse a presença ilustre de Valéria Valenssa vestindo uma calça de pele de cascavel.

Uma análise cuidadosa da expressão facial de Fernando Henrique deixa dúvidas. Ou ele estava constrangido por estar sentado em uma cadeira que lembra um sorvete Cornetto, ou sua satisfação foi uma prova incontestável de que o ex-presidente é mesmo um visionário, capaz de prever com a antecedência de mais de uma década os rumos inusitados que tomariam o design brasileiro.

Visionário, aliás, é talvez o termo que melhor caracteriza Donner. Para calar a boca de quem discorda dessa constatação óbvia, ele sugere que se pesquise na internet a abertura de Explode Coração, uma novela de 1995. Antes do início dos capítulos, marcados pelo brilhantismo monossilábico de Ricardo Macchi como o cigano Igor, Donner mostrava um homem que cria uma cigana virtual com a ajuda de um computador. Uma mistura de minoria étnica com a mais alta tecnologia.

Mas o que de fato importa é como o rapaz usava a máquina: em vez de mouse, ele tocava a tela do computador. Para Donner, nascia ali o primeiro iPhone, ou iPad, do mundo. Realista, Donner diz: “Cansei de pensar nisso. Hoje não me interessa mais saber se Steve Jobs me copiou ou não. O fato é que, mais uma vez, estava à frente de meu tempo.”

Nem Donner, nem a empresa que fabrica seus móveis revelam quantas mesas, cadeiras e poltronas já foram vendidas. Dizem apenas que Xuxa Meneghel e Fausto Silva teriam manifestado interesse pela Poltrona Brasil. Se hoje Donner encontra a glória no mundo dos mobiliários, ele relembra que sua vida não foi feita apenas de louros. Com um tom de voz melancólico, recordou a hostilidade: “Lembro-me das pessoas me criticando por ter criado aqueles relógios gigantescos e maravilhosos do Brasil 500 Anos.” Em seguida, cantou vitória: “Mas hoje tenho certeza de que fui plenamente compreendido.”

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J. G. Noll

“— Eu tinha caído no rio que havia perto da rua principal — me interrompeu Cris —, lembro que passava o trem numa das margens, lembro que mais ou menos de duas em duas horas um trem passava apitando feito louco, e eu via pelas janelas rostos amarfanhados de crianças insones, pude ver uma mulher sendo feericamente beijada por um homem, de quando em quando via passar um vagão-restaurante, pessoas sorvendo sei lá quantos tipos de bebidas, garçons meio inclinados, cheios de mesuras, porém o que eu quero contar é que acabei caindo no rio, sentada numa ribanceira lodosa acabei rolando lá pra baixo, lanhei um pouco as pernas, nada de especial, mas o negócio é que fiquei encharcada com a água do rio, e aquilo não sei, me humilhou, me pôs a ficar envergonhada, a não querer voltar para o hotel antes que secasse, mas embora a noite enluarada, seca, a umidade da roupa não arrefecia e resolvi voltar para o hotel, condoída de mim mesma, pois foi essa a maneira que encontrei para voltar, comecei a fazer um esforço para sair de mim própria, a ver de fora aquela menina outra que não eu, isto me diminuía um pouco a vergonha, era aquela triste menina com seus passos indecisos que caíra inteira no rio e não eu, eu apenas a observava, toda penalizada, e quando entrei no hotel e o meu pai me beijou, te juro, que eu estava tão apartada de mim, me olhando de tão longe como numa platéia, que não senti o abraço do meu pai, vi que ele me beijou mas no meu rosto não veio calor de ninguém, e tanto isto é fato que até hoje me lembro, no instante em que notei que o meu pai ia se afastar do seu abraço em mim, neste instante eu olhando tudo de tão longe me peguei afagando meu próprio rosto, como se há muito não soubesse de afago, e pensei se a umidade do meu rosto tinha a ver com a água do rio ou se era eu a transpirar.”Harmada, página 23, de João Gilberto Noll.

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Paradjanov

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Graphic philosophy

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

por Genis Carreras.

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30 km

Cordões – 30 km de linhas estendidas (1969)
Cildo Meireles

Registro de ação em que o artista estende e recolhe um fio ao longo do litoral do Estado do Rio de Janeiro. A obra estará cartaz na exposição Panorama da Arte Brasileira 2011 – Itinerários, itinerâncias. A partir do dia 15/10 no MAM São Paulo.

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